Plunct Plact Zum

Nesta quinta-feira peguei um avião, rumo a um merecido feriado prolongado. Tinha marcado meu assento para a janela e ao chegar ao meu lugar, me deparei com uma mãe no corredor e sua filha pequena, de uns cinco anos, no meio. “Argh!”, exclamei em off, minha alergia a crianças já me fazendo coçar. Bem do meu lado, ai de mim! Mas, passado o susto, fui subitamente acometido por uma inexplicável magnanimidade: “você não quer sentar na janela?”, indaguei àquele pequeno ser, quando sua mãe pediu para que ela deixasse “o moço passar”.

Não sei o que me motivou a isso, provavelmente a preguiça de ter que passar pelas duas até alcançar meu assento, ou o medo de, durante a viagem, me sentir encurralado por elas. Ou quem sabe o entusiasmo pelos promissores dias que me esperavam, ou ainda a alegria pelo fato do voo ter atrasado “apenas” uma hora. Vai saber. Mas a família toda (do outro lado do corredor estavam o pai da pimpolha com mais três de seus irmãozinhos, um deles ainda de colo – o quarto viajava em compartimento especial, a barriga da mãe) ficou tão feliz com este simples gesto, “olha, filha, na janela, que legaaallll!!!! Agradece o moço!”, “obrigado!!”, me agradeceu ela num sorriso, que me senti satisfeito com minha boa ação, tão facilmente praticada. Às vezes eu sou um fofo.

Ainda antes da decolagem eu já recebia do céu a confirmação de que havia feito a coisa certa: “mamãe, se Jesus morasse lá onde o avião sobe, a gente ia ver Jesus, né?”, indagou a inocente pequenina, que logo depois, enquanto o avião subia, constatava: “nem parece a luz das casas, parece um tapete todo brilhante cobrindo tudo”, referindo-se às luzes da cidade vista do alto. As crianças também são fofas às vezes.

Tamanho clima de anúncio de amaciante de roupas logo foi cortado pelo anúncio do comandante, que dizia que devido ao caos, digo, tráfego, aéreo, faríamos uma….escala não prevista, em Campinas, para de lá partir sabe-se Deus quando. Viajar de avião neste país é uma aventura repleta de surpresas, acredito ter sido avisada previamente minha pequena companheira de viagem por sua mãe, como forma de incentivá-la.

Mas, como bom brasileiro, logo dei um jeitinho de driblar a adversidade. Descobri três assentos vazios na parte de trás do avião, para onde me dirigi logo após o lanche e me despedir de minhas vizinhas. Coloquei o fone de ouvido, me ajeitei como pude, me encolhendo nos bancos, encostei minha cabecinha no travesseiro e, contagiado pelas vibrações infantis, fiquei imaginando que estava fazendo uma viagem bem longa, noite adentro. Afinal, quanto mais longe se vai, e mais longa for a viagem, mais legal é o lugar a que se chega! Brincando de faz de conta, logo peguei no sono. Daqueles angelicais.

E nem demorou tanto assim. Mal tinha começado a babar quando tive que voltar à posição vertical para a nova (e última) decolagem. Chegando ao destino final (enfim), ao sair do avião estava tão chapado de sono que vi Jesus Cristo na pista, recepcionando a mim e à grande família, de braços abertos, nos saudando: “vinde a mim as criancinhas!”.

Foto: gooooooogle

Arquivo: junho 2007

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