Archive for the ‘De um tudo’ Category

No escurinho da blogosfera

29 de setembro de 2012

E pronto. Chega de falar da minha vida. Quem estiver interessado em acompanhar meus próximos crônicos capítulos, que compre meu livro. Não, não publiquei um livro. Mas posso vir a publicar um dia. E, em tempos de redes sociais, se eu não estiver nesse momento falando, ou melhor, escrevendo, sozinho, e houver alguém aí fora me ouvindo, ou melhor, me lendo, que crie uma petição no Facebook do tipo “Queremos Paulo Pu em nossas Prateleiras – PPP!” e a entregue com 1 milhão de assinaturas para cada editora brasileira.

Bom, mas cá escrevo esta derradeira crônica (neste espaço, que fique bem claro. E sim, já há algumas não publicadas, à espera de acontecimentos, como a Marina Lima) justamente para falar não apenas sobre blog, mas também de redes sociais.

Sim, porque resolvi me atualizar e criei não só um novo blog, como também seus derivados. Agora meus escritos poderão ser lidos, curtidos e seguidos, de acordo com o gosto do freguês. Bem, e como já adiantei, o assunto não será mais minha vidinha, mas sim a vida dos outros. A vida ficcional dos outros. Ou baseada em realidade, mas interpretada por outros. Ou documentada. Animada, também, por computador ou artesanalmente. Em 2D, 3D, e os D mais que vierem.

Filmes, enfim, falarei de filmes!

Short Cuts – Quanto mais filme melhor

Dicas minimalistas de grandes (ou nem tanto) filmes. Com humor, que nunca é demais.

(favor não confundir a bela homenagem do subtítulo a um dos maiores cineastas de todos os tempos com campanha de refrigerante!)

Leiam, curtam e sigam! E façam bastante propaganda boca a boca!

Para ler:

http://www.shortcutsbrasil.blogspot.com/

Para curtir (com ou sem pipoca):

https://www.facebook.com/shortcutsblog

Para seguir sugestões diárias (sim, diárias) de filmes:

https://twitter.com/shortcutsbrasil

 

Saudações cinematográficas!

 

Foto: quem ler o blog novo saberá 

Diário de um lunático (Lunático: segundo definição da Turma do Balão Mágico, aquele que vive sempre no mundo da lua)

21 de agosto de 2011

Segunda-feira

Reprise (mental) do antepenúltimo capítulo de Lost. Reunidos em torno de uma fogueira estão Jack, Kate, Sawyer e Hurley. Diante deles, Jacob enfim revela o porquê de eles estarem ali na ilha. Quem dá a deixa é Sawyer, quando diz que estava bem até ser levado para lá sem pedir.

“Não, não estava. Nenhum de vocês estava. Não tirei ninguém de uma existência feliz. Todos estavam sem rumo. Eu os escolhi porque vocês eram iguais a mim. Vocês eram solitários. Queriam algo que não conseguiam encontrar lá fora. Escolhi vocês porque precisavam deste lugar tanto quanto ele precisava de vocês”, assim falou Jacob.

Porra, Jacob, como você foi se esquecer de mim?

Terça-feira

“Toddy orgânico é o delicioso sabor da verdade de Toddy [hein?!], feito com ingredientes orgânicos livres de defensivos agrícolas e cultivados em harmonia com o meio ambiente, em busca de um amanhã melhor que hoje.”

Ah, tá.

(será que serviam Toddy orgânico ao pessoal da Iniciativa Dharma?)

Quarta-feira

“Somos todos personagens dramáticos que só se manifestam comicamente” – Vittorio Gassman em La Terrazza, de Ettore Scola.

Quinta-feira

“TIIIRA O DEMÔNIO DA JACIRA!!” – esses programas de rádio evangélicos de madrugada podem ser muito divertidos.

Sexta-feira

Emma Morley. Descobri minha alma gêmea literária (a cinematográfica é Boris Yellnikoff, de Tudo Pode Dar Certo, do Woody Allen). A protagonista de Um Dia, livro do britânico David Nicholls, já passou por coisas que eu passei, tem planos parecidos com os meus, e, como se não bastasse, até diz coisas que eu já disse ou costumo dizer, a danada.

Mas temos algumas diferenças. Não compartilho uma certa militância sua, por exemplo. Emma quer mudar o mundo. Eu não, eu quero é ser mudado por ele. Isso ainda não aconteceu, mas, como ela e eu dizemos, “alguma coisa vai acontecer, porque simplesmente não é possível que não”.

Em certa área da vida, também estou mais para o Dexter, o outro protagonista da história. E quem melhor o define é a própria Emma, quando indagada por um terceiro personagem sobre o nome do mais recente par de seu amigo: “São como peixinhos de aquário, não adianta dar nome porque não duram muito”.

Sábado

Oba, hoje vai passar na TV Carrie, a Estranha. Por mim eu veria Carrie, a Estranha todos os sábados à noite. Será que isso é muito estranho?

Domingo

É como estar no espaço lutando contra aliens. Não adianta gritar que ninguém vai me ouvir.

Segunda-feira

E essa tal estabilidade? Hei de encontrar, parafraseando o Tim Maia. Afinal, já sou freelancer por demais, como cantava aquele grupo oitentista de sugestivo nome Sempre Livre. Tentarei um concurso público.

Terça-feira

E agora o Bob`s me vem com milkshake de Chokito. Bem, é bom, mas o de Ovomaltine é melhor. O milkshake de Ovomaltine é imbatível. Minha única decepção recente em relação ao Ovomaltine foi com o Danette. Porque o Danette de Ovomaltine não tem Ovomaltine. E propaganda enganosa até nas minhas gulodices, aí já é muita sacanagem.

Quarta-feira

E o feijão queimou, esquecido que estava no fogo, coitado. E pronto, minha roupa, estendida no varal, está cheirando a feijão queimado – inclusive minhas cuecas.

Quinta-feira

Tenho medo basicamente de três coisas: altura, pessoas e luzes de Natal. De barata não tenho medo. É ódio mesmo.

Sexta-feira

Em um futuro não muito distante, alguém irá me encontrar na toca do Pu todo descabelado e jogando pozinhos coloridos pela casa, junto com meu mais novo amigo imaginário, repetindo “I hear in my mind, all of these voices / I hear in my mind, all of these words / I hear in my mind, all of this music / And it breaks my heart, it breaks my heart, it breaks my hahahahahahahahahahahahaheart”, igualzinho àquele clipe da Regina Spector.

Praticamente uma Catherine Deneuve em um Repulsion pós-moderno e às avessas.

Sábado

Na vitrola: “Mistérios da meia-noite que voam longe / Que você nunca, não sabe nunca / Se vão, se ficam / Quem vai, quem foi…”

(Música-tema do lobisomem de Roque Santeiro)

Domingo

Ai de ti, Ipanema. Depois do triste destino do cinema Bruni/Star Ipanema, que passou lastimavelmente fechado por anos e anos até se ver violentamente transformado em uma ainda mais lastimável Casa & Vídeo, chegou a vez da tosca padaria Eldorado – esta sim que já deveria ter fechado as portas há muito –, que poderia enfim encontrar sua grande chance de se redimir, mas será substituída pela 953ª farmácia do bairro.

Segunda-feira

Cursinho preparatório intensivo para o concurso público. Quatro anos de faculdade revisados em um mês. Iupi.

Terça-feira

Acho que foi Oscar Wilde quem pediu aos céus que o livrassem dos males físicos, pois dos espirituais ele podia dar conta. Eu estou bem servido de ambos. Dos primeiros, tenho minha coroidite serpiginosa, meu prolapso da válvula mitral e minha gastrite. Para a primeira, ando tomando até injeção no olho. E a substância injetada é originalmente usada para tratar câncer retal. Ou seja, introduzem no meu olho, em minha janela da alma, algo que na verdade é para o olho do cu.

(nota: procurar um bom psicanalista)

Quarta-feira

Será que um dia aprenderei a comer sem derramar comida em cima de mim? Minhas camisas – e também algumas calças – agradeceriam enternecidas.

Quinta-feira

Na cestinha da farmácia: Cebion sem açúcar. Logo após, na do supermercado: Nutella, que um par de horas depois é devorado inteiro durante a novela. É justo.

Sexta-feira

Sonho meu: sou o concierge do Copacabana Palace, e o hotel está em polvorosa com a chegada inesperada de Lady Di. E eu, pego de surpresa, amaldiçoo a Lei de Murphy, que fez com que justamente naquele dia, sabe-se lá por que (geralmente é assim), eu estivesse sem meu lindos e engraxados sapatinhos de couro, mas com um vergonhoso par de tênis velhos. E é claro que eu fui destacado para ciceronear a ilustre hóspede pelo hotel e conduzi-la até seu quarto. E eu todo o tempo suava de aflito, rogando à Nossa Senhora dos Maltrapilhos para que a princesa não olhasse para meus pés.

Sábado

Exposição Oneness da japinha Mariko Mori no CCBB. Na instalação interativa de mesmo nome (Oneness, e não Mariko Mori), seis extraterrestres feitos de technogel (algum material de japonês) estão dispostos em um círculo, e o visitante tem a chance de ter uma experiência extrassensorial com eles. Tal consiste em se ajoelhar diante do ET e tocar seu coração. O que acontece? O coração vibra e eles abrem os olhos, uau. Não sei por que, eu achava que eles também diriam algo. Então eu passei cinco minutos ajoelhado diante de um ET de technogel, com a mão em seu coração, e ouvido próximo à sua boca, esperando que ele me dissesse algo, sei lá, me transmitisse alguma mensagem de amor e paz de outra galáxia. Mas ele não me disse nada. E mais, o coração do Oneness ET volta e meia parava de vibrar – definitivamente ele não era da mesma espécie que o ET spielbergiano, cujo coração até se iluminava. E eu saí de lá com a incômoda sensação de que não consigo tocar o coração nem de um ET. De um ET de technogel.

Domingo

Crepúsculo dominical. Tenho medo dele. Sim, tenho medo basicamente de altura, pessoas e luzes de Natal. Basicamente. Isso quer dizer que eles se desdobram em outros. O medo do anoitecer aos domingos é um desdobramento do medo das luzes de Natal. Que ninguém me pergunte o porquê, não sou psicólogo.

Segunda-feira

Esse sistema do Starbucks de chamar os clientes pelo nome quando seu pedido está pronto pode ser bem estimulante. Dessa forma, em uma segunda-feira de manhã, pode-se ouvir a atendente gritar a plenos pulmões: “Vitória! Vitória!”.

Terça-feira

Conversa entre duas meninas no cursinho preparatório intensivo para o concurso público: “Eu levo umas vinte canetas para a prova, porque fico com medo delas falharem”, diz uma delas (uma das meninas, não das canetas), para se corrigir logo em seguida: “Não, eu estou exagerando, na verdade não levo viiiinte [enfatizando] canetas, levo umas dez”. E depois quando eu digo que as pessoas são muito loucas, ainda me chamam de misantropo, antissocial, implicante ou algo assim.

Quarta-feira

Será que algum dia a tecnologia evoluirá a tal ponto em que será possível a criação de tampas de danones que saiam inteiras quando as puxamos?

Quinta-feira

“Podia ser pior.” Minha (e de Emma Morley) tradicional constatação diante do espelho.

Sexta-feira

“É preciso ter o caos dentro de si para se dar à luz uma estrela cintilante.”

Putz, Nietzsche, assim sendo em breve irei parir constelações.

Sábado

Vou-me embora para Xanadu / Lá sou amigo da rainha Olivia Newton John / Lá terei quem eu quero / Na cama que escolherei.

Domingo

Oba, está passando na TV um filme com bichinhos que falam, é tudo o que eu precisava (eu juro que não estou sendo irônico).

Segunda-feira

Glicose e triglicerídeos em alta, segundo o resultado do meu exame de sangue: o ônus de ser essa pessoa tão doce.

Terça-feira

Sim, sou um doce de rapaz. Daquele tipo que arregalam os olhos quando o veem, caem de boca, mas, antes de se chegar à metade, fazem careta e exclamam “afasta de mim esse prato!”. Sou um doce. Enjoativo, porém, ao que parece.

(nota: não ser eu a cair em tentação, e finalmente aprender que só devo oferecer o primeiro pedaço, colherada, enfim)

Quarta-feira

Odeio quartas-feiras, quando esse jogos de futebol encurtam a minha novela.

Quinta-feira

Sonho meu: sou amigo de Bin Laden, e ele está me visitando no balneário de São Sebastião do Rio de Janeiro. Enquanto caminhamos durante uma aprazível tarde ipanemense, ele se mostra um tanto preocupado em ser reconhecido nas ruas, e eu o tranquilizo dizendo que ninguém jamais pensaria que seria ele mesmo ali, em plena Ipanema – mesmo porque todos acreditam que ele está morto. No máximo, o tomariam por um sósia e o apontariam, fazendo chacota, cumprimentando-o mesmo, “aê, Bin Laden!”, mas sem realmente acreditar que é o próprio. Reconfortado meu amigo, passamos a discutir os planos de minha fuga da prisão, para a qual eu em breve seria mandado, sabe-se lá por que (geralmente é assim), e da qual, claro, Bin me resgataria e seria meu grande herói.

Sexta-feira

Adoro quando chega fim de festa, e só restam na pista, ou fora dela, aqueles que ao que parece nem sabem mais como sair dali (e nem mesmo o que estão fazendo ali), com um sorrisinho parado e idiota no rosto, olhos vesgos, balançando a cabeça lenta e descoordenadamente, levantando os bracinhos, com um copo, taça, lata, dependendo da ocasião, isso não importa mais, em uma das mãos, dentro do qual está igualmente dançando o resto de seu conteúdo, uma bebida já há muito quente e choca, seja ela qual for, dependendo da ocasião, isso já não importa mais, ao som de “eu bebo sim, estou vivendo, tem gente que não bebe está morrendo, eu bebo sim”. É um momento mágico.

Sábado

“A vida é um revirar-se entre camas e caixões” – O Cavaleiro Inexistente, Italo Calvino.

Domingo

Às vezes dou asas à imaginação (mais do que de costume) e imagino como seria um mundo em que existissem super-heróis. E é claro que, tal e qual um Pedrinho, me incluo nessa. Afinal, quais as características comuns a todos os super-heróis? Eles têm superpoderes, são solitários, trágicos, e têm um ou dois pontos fracos. Pois eu também sou solitário, trágico e tenho vários pontos fracos. Só não tenho superpoderes. O que acho que deva ser a melhor parte.

Mas, de qualquer forma, se eu tivesse um superpoder, gostaria que fosse o de me teletransportar. Ou de me transformar em quem eu quisesse, como a supervilã Mística, dos X-Men. Pensando bem, se eu fosse a Mística, me transformaria na Paris Hilton e nunca mais precisaria me transformar em mais ninguém.

Segunda-feira

De onde a coca-cola tirou a ideia de que é sinônimo de felicidade?

Terça-feira

Acho que exagerei no amaciante. Minhas roupas estão parecendo todas de veludo.

Quarta-feira

“Você tem arcada de livro…”, disse minha nova dentista. “E o que isso significa, doutora?”, perguntei eu, já desconfiado. “Significa que você tem a arcada dentária perfeita, daquelas modelo, de livro de odontologia. Iguais à sua, a gente só vê em consultório uma vez por ano. Certamente não verei outra assim neste ano.” E com essa eu ganhei meu dia, quiçá também meu ano. Eu tenho algo perfeito. Dentista boa mesmo essa. Me fez sorrir por fora e por dentro.

(Mais uma diferença entre mim e Emma Morley: uma de suas características era o fato de sorrir apenas com a boca fechada. Agora eu mostro todos os dentes. E ainda acho que descobri qual pode ser meu superpoder: dar supermordidas)

Quinta-feira

Fechar um site com música e a dita continuar tocando é coisa do capeta?

Sexta-feira

Quem corre seus males espanta. Por isso eu corro demais, igual à Adriana Calcanhoto. E ao final da corrida noturna de hoje constato algo debaixo de meu braço. Havia espuma em minha axila. Sim, só em uma. E não, não fazia ideia do que diabos pudesse ser aquilo. Mais uma rebelião de meu corpo? Espuma para apagar o fogo que toquei nas carruagens, ao som de Vangelis? Ou simplesmente, como em um daqueles toscos ditos populares, pode-se dizer que eu corri até o suvaco espumar?

Sábado

Na vitrola: “I`ve had a hole in my heart, for so long / I learned to fake it, and just smile along / Down on the STEAMS (sic), those men are all the same / I need a love / Not games, not games…”

(Momento Candy, ou Vapor Barato)

Domingo

Pronto. My Tears Dry on Their Own já era uma música que me tocava. Agora, desde que Amy se foi, não me sai mais da cabeça, só que agora com uma literal overdose de melancolia. Ai de mim. Vou fazer um brigadeiro e comer inteiro na panela. Panela de pressão.

Segunda-feira

Até que macarrão queimado não é ruim. Acho que queimarei o macarrão mais vezes.

Terça-feira

“O que é seu, está guardado”, alguns dizem. Só espero que não mofe.

Quarta-feira

Existirá alguma marca de meia que seja realmente de qualidade, ou será eu que tenho espinhos nos calcanhares?

Quinta-feira

Meia-noite em Paris. É claro que adorei o filme. É claro que me identifiquei com o personagem que não se identifica com o tempo nem com o espaço.

A Belle Époque e os anos 1920 da Paris do filme de Woody. Ou ainda Hollywood, décadas de 40, 50 – nessa época poderia ser até mesmo minha terra natal, Ipanema. Nova York anos 1970. Gosto especialmente de como os cavalheiros de séculos passados tiravam os chapéus para cumprimentar os outros na rua.

(nota: assuntar com amigos sobre quando será a próxima festa a fantasia)

(nota 2: serão meus recentes sonhos com Lady Di e Bin Laden influência de Woody?)

Sexta-feira

De Tanto Bater Meu Coração Parou. Filme chatíssimo, um dos poucos a que nem minha polianice cinematográfica resistiu chegar ao fim, à prometida última batida. Mas daria um excelente nome para uma eventual biografia minha. Quando estou em alguma aglomeração de gente, tipo vagão de metrô, eu olho para as pessoas e fico pensando que cada uma delas irá morrer um dia. Me pergunto se alguma delas estaria também pensando nisso naquele instante. E a única certeza que tenho é a de que irei morrer mais do que cada uma delas. Seja lá o que isso signifique.

(e seja como for, em minha próxima vida quero ser uma gaivota. Ou, quem sabe, ainda que por motivos diversos, o lulu da pomerânia de uma solteirona – feia, que é pra garantir)

Sábado

Não sei por que ando eu com esta monotemática cardíaca. Eu que nem coração tenho mais, queimado que foi o pobre pelo fogo de palha alheio. Sim, ele poderia renascer de suas próprias cinzas, tal e qual uma fênix. Uma fênix empalhada. Sim, meu coração é uma fênix empalhada.

Domingo

Tem gente que é uma força da natureza. Eu sou um desastre natural.

Segunda-feira

Hoje havia no Leblon um vendedor de flores, que expunha suas belas mercadorias em uma espécie de carroça, em forma de buquês. Era tão bonito, mas logo me perguntei se ele estaria de acordo com a lei, ou seria considerado um ambulante. Porque, nesse caso, logo poderia estar a guarda municipal a caminho para destroçar todas as suas flores e deixar o pobre homem sem seu honesto e lírico ganho. Medo. Isso seria o cúmulo do fim da poesia.

Terça-feira

Será que Jacob era um farsante? E quem estava certo, sobre o final das contas, era Macbeth? Ou, quem sabe, Mr. Kurtz, de….O Coração das Trevas? O horror! O horror!

(nota (para um futuro próximo, porque por ora basta de abstrações): procurar alguma possível relação entre Heart of Darkness, de Joseph Conrad, e Total Eclipse of the Heart, da Bonnie Tyler)

Quarta-feira

“…♫I don`t know what to do, I`m always in the dark♫….”……..“The horror! The horror!

Quinta-feira

“A vida sem música seria um erro.” A minha decerto seria bem menos divertida, sem associar cada momento da minha (vida) com alguma (música). Aliás, Nietzsche teve mesmo umas sacadas geniais. Não foi ele quem disse também que “temos a arte para não morrer da verdade” e “aqueles que foram vistos dançando foram julgados loucos por aqueles que não podiam ouvir a música”?

(nota: tentar, mais uma vez, ler um livro inteiro de Nietzsche)

Sexta-feira

Não entendo por que me olham de lado quando dou tapas na testa. Em vez de me julgar, por que não me ajudam a matar esse mosquito maldito?

(meu próprio momento nietzschiano, enquanto aguardo o início de uma peça em um saguão repleto de insetos sanguessugas voadores)

Sábado

Música para meu epitáfio (simbólico, afinal serei cremado e minhas cinzas lançadas ao mar – a não ser que alguém se disponha a escrevê-lo em alguma pedra submersa das Ilhas Cagarras): “I started a joke, which started the whole world crying / Oh, if I only had seen, that the joke was on me / I started to cry, which started the whole world laughing / Oh, if I only had seen, that the joke was on me / I looked at the skies, running my hands over my eyes / And I fell out of bed, hurting my head from things that I said [and done, eu acrescentaria] / I finally died, which started the whole world living / Oh, if I only had seen, that the joke was on me…”.

Domingo

Reprise (mental) de Lost. Jacob enfim revela o porquê de todos estarem ali na ilha: “Vocês estavam sem rumo. Eram solitários. Queriam algo que não conseguiam encontrar lá fora. Escolhi vocês porque precisavam deste lugar tanto quanto ele precisava de vocês”.

Porra, Jacob, como você foi se esquecer de mim?

Imagem: goooooooogle

Receita (de pão) para um mundo melhor

6 de dezembro de 2010

Super padaria e mina de ouro 24 horas Bella Biba, sábado à noite. Abarrotada de gente como sempre, aguardo meu lugar ao balcão como sempre. Avisto de longe um cara que cruzava os talheres. Me aproximo e continuo aguardando, a uma distância que me permitisse ao mesmo tempo garantir meu lugar e não ser invasivo. Mas não foi assim que pensou a dona que chegou logo depois e sonsamente se postou entre mim e ele, praticamente sentando em seu colo. E eu já pensava nas possibilidades para o desenrolar daquela cena:

1. Eu pagaria de trouxa e a dona sonsa me tomaria o lugar na cara dura.

2. Eu pagaria de barraqueiro e a cutucaria no ombro, “ei, eu já estava esperando este lugar, pode dar licença?”.

Qualquer destas que fosse, o aborrecimento era certo.

Eis que o rapaz, ainda sentado, se curva para se desviar da (literalmente) espaçosa senhora e se dirigir a mim: “você está esperando pra sentar, né?”. “Que fofo!”, pensei, pego de surpresa. “Estou, obrigado”, respondi, já contornando a muralha e tomando o lugar que me era de direito – pela ordem de chegada e educação.

E a espaçosa dona se retirou, levando sua grande sonsice para outra banda.

Enquanto comia meu pedaço de pizza quatro queijos, eu refletia com meu chopp:

“Se houvesse mais pessoas justas e gentis em vez de uma gentalha sem a menor educação e ainda metida a espertinha, o mundo poderia ser um lugar bem legal pra se viver”.

Imagem: gooooooogle

Injeção no olho dos outros é refresco!, ou De como manter a saúde em dia

1 de agosto de 2010

“Para morrer, basta estar vivo”, já diz o sábio ditado popular. E dá um trabalho manter-se vivo…

Eu, por exemplo, por histórico familiar, tenho que literalmente correr (ou pedalar) da Tia Betsy, digo, diabetes, todos os dias. A cada aventura de minha promíscua, digo, rotativa vida sexual, devo me cuidar se não quiser pegar uma DST. E de nada adiantou minha última investida contra a gastrite – um mês de Omeprazol -, ela anda mais persistente que minha caspa.

Faz alguns meses, comecei a sentir um incômodo na vista. Fui ao médico, e eis que foi descoberta uma cicatriz em minha retina. No ínterim entre novos exames – que detectaram que eu tinha algumas hemorragias por ali -, consultas e debates entre os médicos acerca de meu diagnóstico (virei até estudo de caso da Escola Paulista de Medicina da Unifesp!), minha vista direita (que estava mais afetada) piorou. Descobri enquanto fazia a barba: ao olhar para o lado direito, não vi nada direito, estava tudo embaçado. E tome novos exames, que detectaram que as tais hemorragias haviam atingido a mácula, por isso aquele olho estava praticamente o Mr. Magoo.

Enquanto não se chegava a um consenso quanto ao que eu tinha, eu que vivo sempre no mundo da lua comecei a tecer minhas próprias hipóteses sobre meu mal.

Quem sabe eu seria o primeiro portador de uma doença contagiosa que transformaria toda a humanidade em zumbis (que poderiam ser vesgos!) comedores de cérebros! Ou talvez meu vírus desencadeador de um apocalipse fosse o da cegueira rosa, e em breve todo o Brasil, a exemplo do que se passou em seu país colonizador com a cegueira branca de Saramago, logo teria toda sua população se batendo pelos cantos e voltando às mais bárbaras formas de primitivismo humano, ainda que vendo tudo cor-de-rosa?

Sentia eu também uma, ainda que de leve, dor de cabeça incessante, o que seria ela? Viria então o problema da vista do fato de meu crânio estar sendo comprimido? Assim, dali a não muito tempo eu sairia mordendo todo mundo à minha volta, como um doberman.

Destas, a que mais me preocupava era a possibilidade da cegueira rosa, ou qualquer outra cor que fosse (mesmo que de todas as do arco-íris). Pensava: se fosse realmente necessária a privação de um de meus sentidos, eu não poderia escolher qual deles? Por exemplo, se em vez de problemas na retina, eu os tivesse nas cordas vocais. Não faria muita diferença na minha vida. Ao contrário, eu poderia livremente dar vazão a todo o meu autismo.

Nunca mais viriam me perguntar por que estou tão quieto. Acontecendo isso, eu simplesmente levantaria uma plaquinha, com a qual andaria sempre a tiracolo, contendo a seguinte inscrição, em letras garrafais: SOU MUDO (e, logo abaixo, MUTE). Ou simplesmente andaria com ela pendurada no pescoço, o que pouparia às pessoas o trabalho de me darem bom dia.

Em meio a tais divagações, chegou enfim o diagnóstico: o que me acomete é coroidite serpiginosa macular. Um nome pomposo para identificar uma doença congênita que causa inflamação na retina, que no meu caso acabou por atingir a mácula. E, se não tratada, pode levar à cegueira.

E qual um dos tratamentos? Sim, conforme já adiantou (e estragou a surpresa) o título desta crônica: uma injeção. E sim, uma injeção no olho. Daqui por diante, além de não parar de suar a camisa nas esteiras, bicicletas, orlas, parques e afins, não me descuidar na hora de suar de outra forma (e não mais a camisa) e evitar alimentos ácidos, tenho que ir ao oftalmologista duas vezes ao ano para monitorar meus lindos olhos (e se necessário tomar mais uma picadinha de corticóides…).

Felizmente minha doença de Gilbert, outra congênita que tenho, não requer qualquer tratamento ou controle, é apenas uma elevação de meu nível de bilirrubina que não me afeta em nada – o máximo que faz é me deixar ligeiramente amarelado de quando em vez (não tanto quanto um Bart Simpson, pelo menos). Já meu prolapso da válvula mitral é perfeitamente controlado com meu super comprimido diário de cloridrato de propranolol!

Complicada, a vida. Para adoecer, basta estar saudável.

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Hoje quase saio da clínica de oftalmologia com torcicolo. Motivo: passar o tempo todo na sala de espera com o pescoço virado, olhando pela janela o vizinho faxinar a casa de cueca. Sim, porque posso estar com o olho ruim, mas não estou cego. Muito menos morto.

Foto: gooooogle

Arquivo: março 2010

Super gafíssima

8 de julho de 2010

 

Dois conhecidos se encontram em um restaurante, e quando chega aquele perigoso momento da conversa em que não se tem mais muito a dizer, um fala para o outro:

– Eu lembro que a última vez que te vi você estava com um namorado super gatíssimo!

(“Super gatíssimo”?… Quase engasguei…)

– É ele, responde o outro, apontando para a pessoa ao seu lado.

Silêncio.

(Bem, partindo do pressuposto de que até então a presença de tal acompanhante tinha passado despercebida pelo autor do comentário, podia-se deduzir que, pelo menos aos olhos deste, seu supergatissimístico atributo havia sofrido alguma alteração desde a última vez em que os dois amigos se encontraram)

– Por quê?, ele não está mais gatíssimo?, completou o namorado do ex-super gatíssimo, para embaraço supremo e desejo máximo de virar-uma-ave-do-paraíso-e-sair-já-dali-voando de seu interlocutor.

– É….bem…..não, claro, está apenas mudado….., tentava ele o reparo, sem muito sucesso.

(Só faltou dizer “nem pior nem melhor, apenas diferente!”!)

É claro que neste ponto do colóquio bisbilhotado, digo, entreouvido, este que escreve não mais conseguiu resistir à força que o impelia a virar-se, a fim de conferir aquele que um dia já foi super gatíssimo e a figura que inadvertidamente trouxera à tona tal realidade, bem como checar o quão fundo já estava o buraco que este último cavava com os pés para se enfiar dentro.

Acho que não vi um gatinho. Muito menos seu superlativíssimo. Eis por que o bichano não foi reconhecido: por alguma razão que não cabe agora especular, virou o diabo da tasmânia, em pessoa.

Imagem: gooooogle

Arquivo: outubro 2008

Ensaio sobre um tipo muito louco de cegueira

28 de junho de 2010

Tipo, frequentar a Blockbuster às vezes pode ser muito divertido. Explico. Estava eu na filial do Leblon do citado estabelecimento, escolhendo um filme para alugar, quando se aproximam quatro aborrescentes do sexo feminino. É claro que, por uma dupla razão, não dei a menor importância ao fato.

E indiferente continuei até chegarem a meus ouvidos frases soltas como “hoje eu não queria ver algo pra pensar”, ou “este filme, tipo, é engraçado, mas não tem um fundamento de base, sacou?”. Foi quando comecei a me interessar, sob um fundamento antropológico, pelas meninas e passei a prestar atenção naqueles peculiares seres.

“Vocês já viram este filme?”, perguntou a mais falastrona delas (a mesma do fundamento de base), enquanto mostrava às amigas uma caixa de filme. “É sobre, tipo, umas pessoas que de uma hora pra outra ficam cegas”, resumiu ela o enredo.

(Isso vai ser ótimo, pensei eu, e agucei ainda mais meus ouvidos, observando-as de soslaio por detrás de uma prateleira enquanto fingia olhar os DVDs)

“Tipo, o cara acorda e começa a ver tudo branco, tipo, ele é médico e foi contaminado por um paciente dele”, contava ela. Quando uma de suas amigas pergunta o porquê daquilo, ela esclarece: “sei lá, é uma doença muito louca, as pessoas começam a ficar cegas e enxergar tudo branco de uma hora pra outra, tipo uma epidemia”. “Aí, tipo”, continua ela, “o governo manda isolar todo mundo pra não contaminar, tipo a gripe suína”.

(Meu Deus, o governo já está tomando medidas tão drásticas?! Engoli uma tossida)

“Então fica todo mundo nesse tipo dum hospital, e o filme fica nisso o tempo todo. Aí, tipo, eles estão todos cegos, e não enxergam mais o caminho pro banheiro, então acabam fazendo tudo pelo caminho”.

(É verdade, uma nojeira, concordei em silêncio)

Daí, tipo, elas já tinham pego um filme, que eu não consegui ver qual (se era o tal sem fundamento de base), e se dirigiam ao caixa. E eu que, tipo, não queria perder a continuação daquela sinopse sobre a asneira, digo, cegueira, tratei de pegar logo um filme pra mim e correr para o caixa, pra poder continuar ouvindo aquela saramaga da arte de contar histórias.

“Aí, tipo, nego começa a parar de dar comida pra eles, e eles começam a brigar!”, narrava ela num crescendo de emoção em seu tom de voz.

Sim, aquilo estava ficando cada vez mais emocionante. Mas aí, tipo, para minha tristeza não pude acompanhar o desfecho daquela brilhante narrativa, porque, tipo, nego foi atendido e foi embora.

Imagem: goooooogle

Arquivo: agosto 2009

Tal filha, tal amigo da mãe

23 de junho de 2010

Recentemente incorporei a meu repertório uma expressão que ouvi de uma criança de apenas cinco anos, mas que de tão genial passei a utilizar naqueles momentos em que casualmente encontro algum conhecido, ou sou encontrado casualmente por algum conhecido, não importa, o que vale é que, sinceramente, tal encontro não tenha me trazido uma completa felicidade, para dizer o mínimo. Explico.

Padaria Casablanca, Morumbi, em uma certa manhã de sábado. Tomávamos o desjejum eu, minha amiga Nana e sua filha, Naninha, de cinco aninhos. Entra no local uma amiguinha de escola de Naninha, também acompanhada da mãe, que se aproxima de nossa mesa: “olha quem está aqui, filha, a Naninha!!!”, diz a adulta naquele típico tom afetado materno, incentivando a pequena, que se escondia entre suas pernas, a cumprimentar entusiasticamente sua amiguinha.

“Naninha, a Lili! Dá oi pra Lili, filha!!!”, completava minha amiga, com o mesmo histrionismo e igual objetivo, incentivando por sua vez sua filha a dar pulos de alegrias pelo encontro, enquanto esta, entre risonha e constrangida, punha a cara entre as mãos.

(Realmente ser criança pode ser um pesadelo, não poder nem escolher com quem se quer ou não falar! Imagina se um dia estou na rua com minha mãe e passa Mr. Big, por exemplo: “olha, filho, Mr. Big, fala oi pra ele!!!”, ou ainda, “”filho, olha o Aidan, você não vai falar com ele???”. Acho que em uma situação dessas, eu responderia chutando a canela de minha mãe e sairia correndo…)

Enfim, quando ambas as mães perceberam que a interatividade entre suas filhas não renderia muito ali, acharam por bem que seria a hora de dar tchau, como nos Teletubbies, e praticamente como estes, concluíram o colóquio, para alívio das pobres crianças: “dá tchau pra Naninha, filha!”, “filha, diz tchau pra Lili!”. E assim a mãe de Lili foi procurar uma mesa, com sua filha desta vez com o rosto enfiado em seu traseiro.

Quando finalmente se viu livre daquela tentativa forçada de socialização, a pequena Naninha pergunta à sua mãe, com toda sua espontaneidade infantil: “o que ela tá fazendo aqui? Tá me seguindo?”. Genial. Quase aplaudi. E incorporei a expressão definitivamente a meu repertório.

E se eu conhecesse minha amiga há mais de cinco anos e ainda houvesse alguma probabilidade física da equação [Eu + Nana = Naninha] se aplicar, eu teria exigido naquele mesmo instante que a menina fosse submetida a um exame de DNA. Aquela criança certamente seria minha filha.

Imagem: gooooooogle

Arquivo: julho 2009

Tortos direitos

25 de maio de 2010

Minha irmã Ternurinha foi recentemente vítima de mais um episódio de violência em minha abandonada cidade (pelos governantes, não por mim, apesar da atual distância). Felizmente não aconteceu nada com ela, mas o vidro de seu carro se fez em milhares de pedaços e sua bolsa arrancada do banco de trás antes que ela tivesse tempo de se virar para entender o que se passava – enquanto aguardava o trânsito andar.

Foram ela e Mamãe Chance Sellers à delegacia fazer o B.O. Após o delegado contar um pouco de sua vida, mostrar a foto do neto em seu celular para minha mãe, e ela também contar alguns episódios pitorescos dos seus, a conversa voltou para a ocorrência, e Mamãe Chance Sellers já se sentia à vontade para expressar sua opinião a respeito do que deve ser feito com os meliantes que praticam ocorrências como aquelas que elas registravam.

Ao que o delegado, diminuindo o tom de voz, aproxima-se de minha mãe e Ternurinha e lhes confidencia: “quer saber? Eu também acho isso, mas não podemos falar nada, porque os direitos autorais vêm em cima da gente!”. As duas se entreolharam. “Direitos humanos…”, emendou minha irmã.

“Isso, isso!”, concordou o delegado. Mas acho que minha irmã acabou confundindo o delegado, que sabia exatamente do que estava falando. Afinal, quem é que, em detrimento dos direitos de pessoas honestas e trabalhadoras, sai sempre em defesa dos autores de crimes?

Imagem: gooooooogle

Arquivo: novembro 2008

Meu lado gente…

12 de maio de 2010

BUM! Um estrondoso e inesperado som simulando o estouro de uma bomba dava grande susto nos espectadores de uma peça que, pegos desprevenidos, pularam de suas cadeiras, incluindo este que escreve (não, embora possa sugerir o início deste texto, não era a peça do Jorge Fernando).

À minha frente estavam sentadas três velhinhas. Refeito do susto e do riso subsequente de meu próprio ridículo (atenuado pelo caráter coletivo do papelão), ao olhar para aquelas cabecinhas brancas minha fértil e mórbida cabecinha não pôde deixar de pensar: “imagina se elas morrem do coração?!”. No que uma delas vira para as outras e diz, enigmática: “mais uma dessas, hein?….”.

E eu comecei a ficar seriamente preocupado com as velhinhas.

…meu lado quadrúpede

“Visual novo!”, exclamava Li, companheira de labuta, ao vir me dar bom dia. Como eu devo ter demonstrado não compreender, ela foi mais explícita: “o cabelo!”. “Não, Li, faz tempo que cortei, só agora que você viu?” (tipo “tá doida?”).

“EU cortei o cabelo”, esclareceu ela, quase esfregando suas madeixas aparadas diante de meu cego nariz (!!!). Silêncio. Logo interrompido pelas gargalhadas das testemunhas da cena.

“Ainda bem que não sou seu marido!”, esbocei eu uma tentativa de emenda, logo me arrependendo ao me dar conta de que dependendo da interpretação poderia sair até pior que o soneto, mas o foco da atenção geral felizmente ainda estava na gafe inicial.

“Pois é, coitada da sua namorada!”, divertia-se Li. Bom, quanto a isso não tenho com que me preocupar. Ainda bem, coisa mais estranha o hábito mulheril de ficar a toda hora mudando de cabelo e não comunicar a ninguém. E ainda esperam que a gente note.

Imagem: gooooogle

Arquivo: julho 2008

Piadas que só a gente entende (e acha graça)

6 de maio de 2010

Havia em minha antiga vizinhança carioca um cachorro, um poodle, de nome Paulinho. Meu saudoso filho canino, que se chamava Chopp (não, nunca gostei de tal bebida – acontece que na época em que o adotamos, em minha gaiatice de menino, achei que o nome caberia bem a um beagle), adorava conversar com ele pela janela da sala, quando o via na rua.

Assim, minha criativa mãe, que como já se sabe se chama Mamãe Chance Sellers, ao levar seu neto para passear, dizia a ele: “vamos ver Paulinho!”. E Chopp se agitava todo, não tanto pela expectativa em si de ver Paulinho, mas pelo que significava tal ideia.

Nunca mais vimos Paulinho. Provavelmente ele e Chopp brincam hoje livremente pelos belos e vastos campos do céu dos cachorrinhos. Mas não o vemos mais apenas no sentido literal da palavra, pois metaforicamente continuamos a vê-lo.

Quando saio de casa, minha mãe pergunta: “vai ver Paulinho?”. Quando minha irmã Ternurinha quer falar com Mamãe Chance Sellers e não a encontra, pergunta: “Mamãe Chance Sellers foi ver Paulinho?”. E por aí vai, ou melhor, vamos todos, ver Paulinho – o hábito se estendeu a toda a família TraPu, que imortalizou entre seus membros o cachorrinho da vizinha e a expressão.

Já em meu emprego anterior, certa vez se travou o seguinte diálogo entre Rena e Minie:

– Onde você estava?, quis saber a curiosa da Minie, vendo Rena retornar à sala após um longo período de ausência.

– Estava no RH, resolvendo um assunto relativo à sua demissão, respondeu de pronto, muito seriamente, a Rena.

Minie, que já é branquinha, ficou mais pálida que o Gasparzinho.

Era brincadeira. Não era 1º de abril, mas era mentira. E das engraçadas, pelo menos assim a consideramos. Pra quê. Desde então – e isso foi há uns três anos –, Rena e Minie, as culpadas, e os outros membros da trupe – eu, Marcos Farto e Vivi – não paramos mais. É mais forte que a gente, não conseguimos.

Exemplo:

– Pu, quando você vem ao Rio? (sim, até mesmo por e-mail não nos contemos)

– No dia da SUA DEMISSÃO! (assim mesmo, em caixa alta, seja por escrito ou falado)

Repito, é mais forte que nós. Quando vou ao Rio, este é assunto recorrente entre mim, Rena, Vivi, Minie e Marcos Farto. A grande graça desta que começou como uma inocente piada interna são suas múltiplas possibilidades de uso:

Ouvindo uma música, que diga algo como “não dá mais pra segurar, explode coração” – “explode a SUA DEMISSÃO!” (fazíamos muito isso durante os momentos ociosos no trabalho, quando éramos confortados por um radinho e a espera de um momento da música em que pudéssemos inserir da forma mais apropriada a SUA DEMISSÃO – nos “coração” e “paixão”, por exemplo. Hoje fazemos quando nos encontramos em algum dos bares da vida, e quando chega a hora do bode apuramos nossa audição e reiniciamos o encanto da noite brincando de encontrar a SUA DEMISSÃO no som que toca. Sim, quem disse que é um hábito normal?).

Bisbilhotando a conversa alheia, em que digam algo como “saudades de você!” – “saudades da SUA DEMISSÃO!” (nesses casos comentamos entre nós, falando e rindo baixinho como crianças bobas. Ou para nós mesmos, quando estamos sós… Sim, definitivamente não é algo normal! Mas afinal, o que é normal? Normal é a SUA DEMISSÃO!).

Bom, chega de escrever por ora, poderia ficar a noite toda discorrendo sobre a SUA DEMISSÃO, mas tenho que ir. Preciso ir ver Paulinho.

Imagem: gooooooooogle

Arquivo: julho 2008